domingo, 16 de janeiro de 2011

Menina...Mulher...Menina


Um último adeus, os olhos se fecham. Na mente, as imagens de uma etapa da vida que se encerrava precisamente naquele momento. A menina estava partindo.
Longa viagem, as paisagens alternam-se juntamente com os sentimentos. O pequenino receio da lugar à ansiedade. Coragem? Ela tem muita. Sonhos? Não, mulheres têm metas. Os olhos fixos no horizonte da certeza, rumo a cidade fria.
Na chegada, o vento gelado no rosto dá boas vindas. Respira fundo, o ar tem sabor de independência, o céu nebuloso e o concreto dos edifícios acolhem-na dizendo “cedo ou tarde você se tornará cinza e dura, apenas como nós”. Por toda a parte, as pessoas apressadas e aflitas cegamente imersas na rotina sussurram “você não tem escolha”. Levantou a cabeça e deu o primeiro passo.
O tempo passa e ela continua andando. Possui uma preciosa arma, o sorriso inabalável que inunda de cor e vida todos os lugares onde passa. Pedras cada vez maiores no caminho, os dias tornam-se mais densos, cansativos, porém sua força cresce. A mulher está completa, segura de si, confiante. Um emprego, amigos, faculdade, um lindo salto alto e duas garrafas de vinho com alguém que cruzou seu caminho.
            Ainda assim, a cidade é implacável, lança mão de artimanhas como raposa. As longas e silenciosas noites trazem consigo lágrimas, escassas, carregadas de uma solidão inadmissível.
Mas nas horas mais escuras renasce a menina. Aquela menina que tem olhos cheios de esperança, que sonha sem medo, dona de um espírito leve por se dar o direito de ter quantas dúvidas desejar. E a menina consola a mulher, com a inocência das canções de ninar, até que os primeiros raios de sol interrompam a madrugada.

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