quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Você é assim




Se me preocupo você diz "não precisa".
Se penso em você, sinto que não quer retribuir.
Se escrevo, você ordena que eu pare.
Fui xingada, esculachada, mal falada e também amaldiçoada por você.
Ja perdi tempo, amor próprio, romances e até amigos por você.
Recebi ajuda, mas também ajudei você.
Ganhei prazer, mas também dei muito prazer a você.
Magoei e quase que simultaneamente fui magoada por você.
A gente riu, se iludiu e se despediu. 
O amor passou, a companhia desagradou, o desejo esfriou! 
O que era bom acabou restou apenas rancor.
Agora vem você, contraditório por querer, perguntando por quê? 
Deveria eu saber? 
Se a cena tem putaria ou honraria eu jamais saberia, nem te perguntaria.
Afinal foi você, mesmo sem convencer, que me mandou te esquecer.

sábado, 26 de março de 2011

A feira


É final de semana e o sol ainda brilha tímido. Mesmo assim tem curitibanos na rua.
Entre eles uma garota do norte. Típica rondoniense de pé vermelho e gosto apurado.
Estamos todos juntos onde o mundo se encontra. Aqui na feira somos todos iguais.
Mas a feira daqui não é igual a feira de lá. Quase engana, mas há diferenças gritantes.
Só quem percebe é quem viveu lá e aqui.
Lá não encontramos o caqui que aqui encontro com fartura.
O caqui fuyu, caqui café ou simplesmente caqui. O que não encontro lá encontro aqui.
Na feira de lá tenho o cupuaçu, pupunha, castanha, açaí, palmito ...
Uma variedade de produtos da terra, que faz da minha terra a melhor terra de todas.
E o peixe?? Háaaa o peixe!! Pescado ontem e vendido hoje.
O cheiro é forte, mas na panela é único. Desperta os sentidos e aguça os mais exigentes paladares.
Sentindo os prazeres de lá acordo no mundo de cá. É Curitiba e não Porto Velho.
Caminhando pela feira encontro pirogue, pinhão, queijos, embutidos, pêssego, nectarina, chucrutz, pepino na folha de parreira.
Sabores diferentes, clima europeu. Um encontro de pessoas, culturas, costumes e prazeres.
Onde mais eu me sentiria em casa se não na feira???

quinta-feira, 24 de março de 2011

Corpo Presente

Nesta sala fria e vazia.
Experimento uma sucessão de conhecimentos.
Mas não é isso que quer o meu pensamento.
Prefiro pensar porque não consigo te amar?
Na minha frente uma pessoa inerente.
Soltando palavras que não contribuem em nada.
Eu sentada perdida, envolvida com problemas da vida.
Neste drama cotidiano, lembro que fazíamos tantos planos.
Metade se perdeu quando o amor esmoreceu. 
Outra metade vai rolar quando o futuro chegar.
E o amor como fica? Melhor não criar expectativa.
Voltando ao presente me sinto dormente.
Sentada desanimada ouvindo conversa fiada.
Numa sala fria ocupada por gente vazia.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Gente Grande

Quando criança não imaginamos o quanto difícil é ser adulto.
Insistimos que o tempo passe logo para que possamos ser “gente grande”.
Pensamos que ser gente grande é não ter hora pra chegar, sair para dançar, beber sem parar e não ter que estudar.
Aí o tempo passa. As responsabilidades aparecem. 
Emprego, casa, marido, filhos, cachorro, gato, papagaio, periquito.
Então percebemos que ser gente grande é ter contas para pagar, criança para alimentar, casa para limpar, sem empregada para ajudar e marido para amar.
Nessa hora lembramos com saudade dos tempos de criança, onde a responsabilidade era estudar, comer, dormir e brincar com o “ser gente grande” a incomodar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lembranças


Há dias em que tudo o que quero é voltar no tempo.
Assim afasto a solidão e mando a saudade para bem longe.
Ultimamente andamos muito próximas, eu, a solidão e a saudade.
Esta, por sua vez, vive sempre acompanhada das lembranças ... e como são numerosas.
São muitas as lembranças da infância, dos amigos, dos tempos do colégio até da faculdade.
E os amores? Uns antigos, outros nem tanto. Amores bem ou mal resolvidos.
Lembranças de cheiros, do paladar de uma comida ou do gosto daquele beijo. 
Um lugar inesquecível que estive sozinha ou na companhia de alguém especial.
Lembranças de minha linda família que longe vive e também dos que não vivem mais.
Lembranças ... Lembranças ... Lembranças
Boas ou ruis?
Não importa, estão sempre atormentando minha vida solitária.
Pedir para voltar no tempo é querer resgatar o tempo perdido.
Voltar no tempo é querer reconquistar pessoas, valorizar pessoas.
Amar com toda força e retribuir o amor que me cercou ao longo da vida.
Voltar no tempo é querer me divertir mais, arriscar o que nunca tive para perder.
É querer rir da vida, dos momentos bons e ruins, mesmo em dias frios e chuvosos.
Mas voltar no tempo ainda não é possível.
Façamos, de agora em diante, tudo o que temos vontade.
Assim vamos tentando preencher o vazio que, vez ou outra, nos encontra e que ao mesmo tempo é o grande responsável por nos perdermos dentro de nós mesmos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tormento


É quando tudo parece bem que ela aparece.
Sorrateira, sorrisinho cínico, despudorado.
Meio sem jeito, mas só no início;
Logo toma conta do espaço.
De um instante para outro se sente dona.
Aí é o fim do sossego.
A nova moradora incomoda.
Haaaaaa! Saudade.
Que saudades do tempo que tu moravas do outro lado da cidade.
A vizinha é inconveniente.
Fala sempre sobre assuntos proibidos.
Que traz a tona lembranças de outrora.
Pessoas, momentos, amizades, aromas, amores ...
Coisas que até então estavam muito bem guardadas.
A saudade é assim.
Quando aparece aperta o coração.
Transforma o humor.
Mareja os olhos.
Causa frio, calor, náuseas, tonteira.
Incomoda até não poder mais.
Um dia se cansa e desapareçe.
Muda-se para outro coração solitário.
E o ciclo recomeça.
A vida é assim.
A saudade é assim.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Chuva de Outono


De repente o azul do céu se transforma em cinza.
De tão intenso é capaz de entristecer qualquer sentimento.
O vento úmido e quente, que até então soprava, não sopra mais.
A brisa agora é fria e convidativa.
Traz com ela uma sensação de liberdade que só os mais sensíveis são capazes de sentir.
As nuvens andam pelo céu com uma rapidez que entontece.
Então, de repente, não mais que de repente, caem pequenas gotículas geladas.
O céu cinza continua a aterrorizar.
O medo é causado pela cor nebulosa e pelos sons de trovões severos
Quase como dizendo: “Sou capaz de dominar e paralisar você”.
Alheia a tudo a chuva cai.
Barulhenta, fria e linda.
Bela como qualquer chuva de outono.
Capaz de banhar de beleza e humor uma cidade fria como o concreto.
Com a chuva o verde fica cada vez mais verde.
Um contraste perfeito com o tom urbano melancólico.
As folhas se agitam saltitantes de felicidade.
Sem se importar com o que acontece lá em baixo, um avião cruza o céu.
Dentro dele pessoas despreocupadas não percebem a beleza do momento ...
E a chuva continua cair, espessa e barulhenta.
É a chuva do final de outono que anuncia,
Em breve o sol brilhará tão forte que sentirás saudades de mim.
 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Anjos


Anjo celeste e espírito sublime eu suplico que me deixe encontrá-las.
É grande a vontade de estar com vocês, gozando de uma vida pura e singela.
Queria ter a ingenuidade de vossos corações.
O que fazer para entrar nesse mundo em que vivem?
O mundo aqui é intolerável, escuro, triste, perverso e miserável.
É impossível suportar a necessidade de estar entre vós.
Por mais que eu corra não consigo alcançá-las.
Cansada, desesperada e frustrada estou, sentindo-me só como num deserto.
Feito miragem vejo-as tão próximas.
Cabelos de anjo têm elas.
Correm de um lado para outro.
A pele macia e delicada como nuvens no céu.
Sinto o toque suave de suas mãozinhas.
Ouço as gargalhadas despreocupadas.
Uma voz fina, suave, delicada e cheia de ternura.
Presença imaginária que inunda minha alma de alegria e contentamento.
A tempestade me trás de volta ao deserto.
Agora não me sinto mais sozinha, a imagem delas me da força para seguir.
São elas que me fazem continuar.
É esse amor que me sustenta.
Que me guia ao caminho certo.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pirata


A vida é realmente irônica. Para quem dizia não querer se apaixonar aquilo era um pesadelo. Quando me dei conta já estava deslumbrada e completamente enamorada. Em menos de um minuto, assim do nada, de uma hora para outra.
De repente lá estava ele, assustado, porém lindo, doce, sério e ao mesmo tempo tão risonho, uma adorável mistura de homem e menino. Mal chegou e já conquistou a todos com uma personalidade penetrante.
Feito um pirata, na calada da noite roubou meu único bem, aquele pelo qual eu era enaltecida. Foi-se meu coração fabricado de uma pedra preciosa raríssima. O pirata levou-o consigo, não tive tempo de tentar qualquer defesa, ele foi bem mais rápido.
Assim como veio foi-se, feito chuva de verão que ninguém espera, mas sabemos que ela vem e tão logo se vai, pega-nos de surpresa sem proteção, agasalho, marquise...
Em um instante eu era a garota livre de quaisquer amarras do coração. Meu Deus! Como isso me fazia bem! Mas, no instante seguinte me desconhecia, não sabia dizer o que estava acontecendo. Finjo que não reconheço os indícios. No entanto, de repente o desespero, que raiva de mim, por quê? Por quê? Logo eu que tanto evitei, e agora o que acontece? Nada, é chegada a hora.
Sinto o perfume de seus cabelos pela primeira e última vez, experimento o leve toque da barba macia em minha face, apressadamente despeço-me e ele se vai a passos firmes. Uma parede de vidro nos separa, vejo-o desaparecendo através dela. Ele segue em direção ao cais, onde um navio imponente o espera, o navio do pirata. É lá seu lugar, sua casa, sua liberdade.
E aqui em terra firme estou eu, vazia e sem coração, pois este está com o pirata, já em alto mar. O que ficou no lugar foi dor, muita dor, dúvidas e medo. O que fazer? Tenho vontade de sair correndo segurá-lo e não deixa-lo partir, ao invés disso, fico olhando aquela embarcação até que ela desaparece por entre a neblina da noite.
Enxugo as lágrimas, disfarço, vejo se há alguém me olhando, dou meia volta e me retiro. Juro por Deus que não era essa a vontade da minha alma, no entanto não há mais o que fazer, ele se foi.
Agora só me resta espera, esperar e esperar e quando aquele navio pirata voltar... a quando ele voltar... estarei lá, no cais, para recebê-lo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vento de Outono


Final de tarde. Mais um dia se vai. É o fim do outono que se aproxima rapidamente.
No céu os últimos raios de sol brilham timidamente.
O calor do dia que termina não intimida o vento que sopra forte;
É gélido e implacável capaz de congelar corações.
A noite promete ser fria, mas a cidade não para.
Apressadamente os carros atravessam entre montanhas de concreto.
É Noite, o céu está escuro e mesmo assim a cidade não para.
Nos prédios as janelas vão clareando uma a uma em sincronia ensaiada.
O vento continua a açoitar os corpos que andam apressados.
O vento continua a agitar as folhas agora iluminadas artificialmente.
O vento continua a desafiar o ciclista que pedala cada vez mais rápido.
O vento continua a castigar os fiéis que vagarosamente caminham em direção a igrejinha recém reformada, iluminada e aconchegante.
É tarde e faz frio.
Timidamente uma pequena nuvem de fumaça sai de uma chaminé.
É a certeza de que naquele lugar corpos estão quentes e protegidos.
Enquanto isso lá fora o vento ...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Menina...Mulher...Menina


Um último adeus, os olhos se fecham. Na mente, as imagens de uma etapa da vida que se encerrava precisamente naquele momento. A menina estava partindo.
Longa viagem, as paisagens alternam-se juntamente com os sentimentos. O pequenino receio da lugar à ansiedade. Coragem? Ela tem muita. Sonhos? Não, mulheres têm metas. Os olhos fixos no horizonte da certeza, rumo a cidade fria.
Na chegada, o vento gelado no rosto dá boas vindas. Respira fundo, o ar tem sabor de independência, o céu nebuloso e o concreto dos edifícios acolhem-na dizendo “cedo ou tarde você se tornará cinza e dura, apenas como nós”. Por toda a parte, as pessoas apressadas e aflitas cegamente imersas na rotina sussurram “você não tem escolha”. Levantou a cabeça e deu o primeiro passo.
O tempo passa e ela continua andando. Possui uma preciosa arma, o sorriso inabalável que inunda de cor e vida todos os lugares onde passa. Pedras cada vez maiores no caminho, os dias tornam-se mais densos, cansativos, porém sua força cresce. A mulher está completa, segura de si, confiante. Um emprego, amigos, faculdade, um lindo salto alto e duas garrafas de vinho com alguém que cruzou seu caminho.
            Ainda assim, a cidade é implacável, lança mão de artimanhas como raposa. As longas e silenciosas noites trazem consigo lágrimas, escassas, carregadas de uma solidão inadmissível.
Mas nas horas mais escuras renasce a menina. Aquela menina que tem olhos cheios de esperança, que sonha sem medo, dona de um espírito leve por se dar o direito de ter quantas dúvidas desejar. E a menina consola a mulher, com a inocência das canções de ninar, até que os primeiros raios de sol interrompam a madrugada.